Bandeja

Lara Carolina
2 min readJul 12, 2023

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Photo by Sarah Penney on Unsplash

Faço das minhas palavras alimento dos teus dias.

Como uma refeição, me sirvo inteira. De bandeja.

Você abre a tampa que esconde o que vai comer e se surpreende.

Eu suspiro e espero para ver como você organiza o banquete que eu te entrego.

O que vai por cima?
O arroz ou o feijão?
O sexo ou a paixão?

Na cama, você sabe, quem vai por cima, sou eu.

Mas quando eu me sirvo de bandeja sobre a tua mesa, eu perco o controle e te dou o poder.

Que tipo de talher você prefere?

Porque eu prefiro mesmo é quando você me come com as mãos e lambe os dedos molhados do caldo espesso que escorre, e te suja os dedos, a boca, a barba.

E depois, ainda não satisfeito, cai de boca e suga até a ultima gota do molho, ainda quente, e por vezes queima a língua. Mas nem se importa, porque é só assim que você se sacia.

Mas hoje quem escolhe como comer é você. Hoje eu só me sirvo. Me viro. E espero.
Pra ver se o meu sabor ainda te agrada ou se o seu paladar busca algo novo.

Eu não cozinho nada em fogo baixo, me falta calma e paciência.
Meu ponto é sempre mal passado pela pressa de chegar até sua boca.
E gosto, quando sem cerimônia, você começa pelo coração. Morde e engole de uma só vez.

As vezes, você me devora com tanta pressa, que mal percebe que eu mudei o tempero, o aroma.
Com a fome de uma vida você me traga.

Quando acabar, limpe e guarde os pratos.
E garanta que de mim, não sobre nada.

Não me guarde pra depois.

Nem pense em por na geladeira.
Não sou de restos. Sou de sobra.

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Lara Carolina

Escrevo tudo aquilo que quero te dizer mas que não quero que você saiba. Escrevo para outros como se falasse comigo. Escrevo pra mim, como se falasse com outros